quarta-feira, 16 de outubro de 2013

TUFÃO ATINGE O JAPÃO E AGRAVA SITUAÇÃO CRÍTICA EM FUKUSHIMA


CONTAMINAÇÃO RADIATIVA DE FUKUSHIMA NO OCEANO PACÍFICO


Fenômenos naturais, como o tufão Wipha, aumentam o vazamento de água radioativa das antigas instalações da usina nuclear. Especialistas afirmam: falta de ação não só do governo japonês, mas de outras nações, pode resultar em um cenário apocalíptico 

por Luciana Galastri 


  Na manhã desta quarta-feira, dia 16 de outubro, o tufão Wipha atingiu a costa do Japão, nas proximidades de Tóquio, matando pelo menos 17 pessoas. No entanto, apesar da tragédia que deixou dezenas de pessoas desabrigadas, a maior preocupação é com a área da usina de Fukushima, também atingida pelos fortes ventos de 126 km/h.

 Água contaminada está vazando diariamente da antiga usina, por mais de dois anos, desde o terremoto e o subsequente tsunami que atingiu a região. Isso significa que enormes quantidades de trítio, césio e estrôncio estão sendo despejadas no Oeano Pacífico, carregadas pelo vento e pela chuva. E a radiação desses materiais pode não só afetar o Japão e o oceano, como todo o hemisfério norte. A situação crítica deveria estar sendo controlada pela operadora da usina, a Tokyo Electric Power Company (Tepco). No entanto a companhia vem tomando soluções paliativas que não resolvem o problema. 

 Como exemplo: por causa das chuvas causadas pelo Wipha, trabalhadores da Tepco precisaram retirar água de containers protetores que cercam mais de mil tanques armazenadores de água radioativa. Essa água será analisada e, se for constatado que não está contaminada, será despejada no oceano. Mas ainda no começo do mês, a Tepco anunciou que 430 litros de água poluída haviam escapado de um tanque enquanto os funcionários da empresa tentavam, justamente, retirar a água da chuva que caiu nas instalações depois de uma tempestade - a mesma operação que será feita agora. 

 Com isso, cientistas que acompanham o caso de Fukushima pararam de confiar na Tepco e no governo japonês para gerenciar a crise da usina. "É essencial que governos de outros países interfiram", afirma o professor da Universidade de Yale, Charles Perrow. Perrow é autor de The Next Catastrophe: Reducing Our Vulnerabilities to Natural, Industrial, and Terrorist Disasters (ainda sem edição no Brasil), no qual analisa as chances que a humanidade tem de enfrentar catástrofes e sobreviver. Recentemente, o professor também escreveu um artigo publicado no Huffington Post em que destrincha o potencial apocalíptico da situação do Japão. Em entrevista para a GALILEU, o sociólogo declarou que a Tepco não tem nem o conhecimento e nem o equipamento necessários para manter Fukushima. "É uma operadora de usina, não uma empresa de engenharia", afirmou. 

A situação atingirá o ápice no dia 20 de novembro 

Para o professor, o auxílio internacional é indispensável. Afinal, em breve, no dia 20 de novembro, a Tepco irá iniciar um processo de remoção de material radioativo do Reator 4. Lá, existem mais de 1300 varetas de combustível altamente radioativo, que precisarão ser removidos manualmente pela empresa. Caso haja uma pequena falha humana, como a que ocorreu no início do mês, causando o vazamento de água contaminada, é possível que Fukushima seja o centro de um acidente nuclear de dimensões 85 vezes maiores do que Chernobyl. 

 Caso as varetas de combustível não sejam retiradas do Reator 4, que está extremamente danificado, elas poderão ser expostas a fenômenos naturais similares ao tufão Wipha ou até a um novo tsunami, causando um acidente de enormes proporções. "A Tepco não conseguiu construir tanques de armazenamento que não vazem, não consegue inspecionar a área de perto para buscar vazamentos, então temos o direito de ficarmos céticos em relação a habilidade deles de fazer uma operação sem precedentes", declara Perrow. 

 O professor alerta que, se duas das varetas de combustível (que, provavelmente, já estão danificadas) se tocarem durante uma tentativa de remoção, a cobertura de zircônio que impede que ocorra a fissão nuclear dentro delas irá quebrar. Isso fará com que, em horas ou dias, ocorra a fissão, talvez com uma explosão, liberando uma quantidade enorme de partículas radioativas. A maioria irá se espalhar através de ventos marítimos, que chegarão à América do Norte. Mas, primeiramente, o centro da Ilha de Honshu, onde está Tóquio, será irradiado. 

Essa primeira fissão poderá causar uma reação em cadeia, tornando impossível que as outras varetas presentes em Fukushima, cerca de 11 mil, fiquem resfriadas. Elas vão alcançar altas temperaturas e causar o evaporamento da água que deveria resfriá-las. "E então elas também entrarão em fissão. Caso isso aconteça, será necessário que a humanidade toda more no Hemisfério Sul. Vai levar alguns meses até a radiação chegar lá. Mesmo assim, ela irá chegar", explica Perrow.

 A morosidade e a falta de ação não apenas do governo japonês, como de órgãos mundiais, pode ser fatal. Mesmo que a operação de novembro da Tepco seja um sucesso, os efeitos da falta de cuidado com Fukushima serão sentidos. "Acredito que só daqui a muitos anos poderemos analisar o efeito real de Fukushima. Mas o fato de 40% de crianças expostas à radiação, analisadas em uma grande amostratem, terem nódulos anormais na tireóide apenas dois anos após o acidente, é alarmante. E o governo diz que isso é normal", conta o professor. Ele acredita que fazemos uma 'dança perigosa' com os efeitos da radiação há 68 anos, desde as bombas de Nagasaki e Hiroshima. E, mesmo assim, os governos buscam normalizar seus efeitos, transformando pessoas afetadas por acidentes nucleares em 'sobreviventes' e não em 'vítimas'. Tudo isso para popularizar a geração de energia nuclear que, ironicamente, culmina na situação de Fukushima.

 Perguntamos à Perrow qual seria a solução ideal para o caso, já que a remoção das varetas do Reator 4 precisa ser feita, assim como a manutenção da antiga usina. "Acredito que a ação correta é atrasar a remoção até que especialistas da Rússia e de países escandinavos, que tem as qualificações técnicas, possam pelo menos supervisionar a operação. Idealmente, que eles possam realizá-la. Isso deve ser feito o mais rápido possível, mas um mês ou dois de atraso para assegurar ajuda internacional valeria a pena. Não há como confiarmos na Tepco e, com certeza, não dá pra confiarmos no governo japonês, que maquia a situação crítica", conclui.


FONTE: GALILEU

MARCADORES: FIM DOS TEMPOS, CONTAMINAÇÃO DO OCEANO PACÍFICO PELA RADIAÇÃO, HERCOLUBUS


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